quarta-feira, 27 de maio de 2009

"Enquanto eu tiver perguntas, e não houver respostas, continuarei a escrever.
Como começar do início, se as coisas acontecem antes de acontecer?
Se antes da pré-pré-história já haviam os monstros apocalípticos?
Se essa história não existe, passará a existir.
Pensar é um ato. Sentir é um fato.
Os dois juntos sou eu que escrevo o que estou escrevendo."

- Clarice Lispector -

autoconselho - Parte I

Quando você percebe qual o motivo mais plausível que possa, eventualmente, explicar porquê sua respiração não é mais uma obrigação humana, mas a apenas uma movimentação automática da qual a única função extraída, de fato, é a permanência no mundo dos vivos, tudo que disser não passará de um sussurro e, a cada batida do seu coração vem uma sensação de surpresa.

Você sente tua alma em outro plano, além do físico.

E ouve seu passado conversando contigo, te fazendo lembrar de momentos que gostaria de não ter vivido.

Você não machucaria ninguém, mas aprecia vê-lo em sua dor. Tenta se desligar, para viver sem seu ódio sem razão. aquela dor no meio do peito que não tem explicação, muito menos cura.

Se te faz bem, continue a alimentar esse ardor irracional. Mas, viver num mundo pintado em preto e branco, às vezes, pode não ser tão confortante.

Você pode ser tudo aquilo que desejar.

Entorpecido pelo verme que corre em tuas veias, você desiste do que é e passa a viver sem uma razão.

autoconselho - Parte II

Corra!! Corra!! Corra!! Quando não ouvir mais os próprios gritos e suas mentiras não te convencerem mais.
E não espere ver a morte do dia.
Seus pensamentos te rodeiam e fazem companhia.
Então, a escuridão solitária te parece acolhedora.

A alegria alheia te incomoda e você sente seu corpo enrigecer, gélido e, a cada movimento, uma nova rachadura se incorpora ao seu físico.

As palavras escorregam pelo lápis. E parece que tudo que você ouviu é sagrado.
A música de fundo te conforta, chama tua atenção, mas é quase um sussurro.
Eis que sente uma lágrima rolando por sua face. E depois outra, e outra, e outra até que adormece.

Em seu sonho, você não tem chão. Continua a cair, pelo que te parece uma eternidade à espera que alguém te segure e, então, repentinamente, percebe que nao virá ninguém e cai em si próprio.

Essa verdade te leva à loucura.

E você sabe que não há como parar a dor, mesmo que deseje que ela vá embora. Aí tenta se esconder, ainda que ouvindo as vozes gritando teu nome.

Anseia pela escuridão...

Não durma! Não morra!

De alguma maneira, você sabe que há, ainda muito por vir, mas está imobilizado pelo medo e cego pelas lágrimas.

Anjos estão caídos aos teus pés, imóveis.
A morte está em frente a ti.
Ela te reconhece e você se pergunta se deve render-se perante seu próprio fim.
Desprezando tudo pelo que você lutou, acorda apenas para se deparar com o fim.

autoconselho - Parte III

Será que alguém sabe quem você realmente é?
Será que alguém sabe que você é aquele que vive em suas mentiras, mesmo estando só?
E para onde você irá quando não conseguir se salvar de si mesmo?
Você não pode escapar!!

Apesar de tudo, seus olhos não mentem. Vê-se que morre de medo de encarar a realidade.
Parece que ninguém ouve seus lamentos escondidos em seu coração e você terá que superar isso sozinho.

Mesmo amedrontado, sente que não deve abandonar o mundo.

Eu também já me cansei das palavras que poucos entendem e parece que o peso do mundo está em suas costas. Mas eu não posso consertar algo que não está quebrado.
Você esta preso a quem costumava ser, mesmo que esse passado não signifique NADA para você.

Em um momento, ainda preso à tua memória, você tentou matar sua dor e só trouxe mais. Sentiu, então, a morte. Sangrou e gritou. Há quanto tempo estava perdido??

Sente a loucura tomar conta do seu corpo e, mais uma vez, se vê deitado.
Seu conforto é saber que ninguém, além de você mesmo, pode decidir qual será seu sonho.

E seu doce sacrifício será, então, o sono eterno. Mas não deixe que ele tome conta de você e, quando puder, volte para a realidade.

O medo é fruto da imaginação. Um dia você vai se esquecer disso tudo e um outro alguém vai se afogar da sua dor, então, perdida.